Tão simples






Francisco Perna Filho



São simples as coisas,

alegres e tristes,

como nós.

Trazem o sabor

e o olhar

de quem lhes dá atenção.

São de cores variadas,

como o pensamento.

Vagam livre,

não sonham,

apenas

vivem.


Imagem:http://www.magiazen.com.br/wp-content/uploads/2009/02/pedras.png

Do Presente


Francisco Perna Filho













Noites

com semelhança de iguais,

sem nunca serem.

Sonhos,

séculos de incertezas.

Não se recicla o tempo.

Não se enclausura os sóis.

Onde estão os iguais?

A verdade pode ser partidária do dia ou da noite,

do ontem ou do hoje.

O amanhã a quem interessará?

Peitar o mundo,

derrubar os encantos

são tarefas de hoje.






In. Refeição. Goiânia: Kelps, 2001, p.113.
Foto by Francisco Perna Filho. Caminito de la Boca. Buenos Aires-2009.






Duplo




Francisco Perna Filho










Faz frio,
fina a pele fica,
o filho dorme.
Há calma,
são secretos os sonhos.
A mulher suspira,
liberta de tudo revela esperança
nos graciosos gestos.
O sono não vem,
invento palavras.
Meus olhos coalhados secam a noite.
Barcos invadem minha sala,
aviõs-de-guerra sobrevoam a minha cabeça.
Caminhos me levam para fora de mim,
viajo.
Não há como entender.
Pessoas conversam,
olho,
nada vejo.
Pássaros libertam-se-lhes os cantos.
Voo.
O filho chora,
faz frio.
Há uma escuridão perpetuada.
Manhã pesada.
Sou pura distração:
afastado de toda racionalidade
observo os pés do sofá.
Alguns passos, passo pela porta do quarto
e contemplo o meu corpo
petrificado no espelho da sala.
Reflito um abraço e vou dormir.



In. Refeição. Goiânia:Kelps, 2001, p. 118-119.

Trânsito


Francisco Perna Filho














Noite,

os carros disputam a volta,

os homens refletem o trânsito:

caos, crítica, crime.

Náufrago,

choro, o tempo atropela o desejo,

almas depositada.

Não há reação...

nos esguichos de vida

o corpo guarda o guarda.

Não há apito,

não há guincho.

De que adianta a direção?

no espaço de todos

a ausência de muitos.




In.Refeição.Goiânia:Kelps, 2001, p. 73

SAGRADA CEIA


Francisco Perna Filho

















A imagem,

carcomida,

age,

na ilusão da mesa,

na solidão do prato,

comportando olhos

peregrinos

e santos.

A imagem

da amanhecida ceia

ainda traz em si

uma serena alma

amarelecida em prantos.

A imagem,

que carcomida age

colhendo pratos,

revisa a fome

de santos e peregrinos.



In. Refeição. Goiânia: Kelps, 2001, p. 105.

Imagem: Pablo Picasso, Pintor e Escultor Espanhol (Cubismo), 1881-1973. Girl Before a Mirror [Femme au miroir],1932 - (Museum of Modern Art, New York)

GOIÂNIA


Para Celina Manso










Francisco Perna Filho

Goiânia,
ouço o teu grito,
como num eco, repetidas vezes,
nesse corredor vazio da Avenida Anhanguera,
nas mortes irrelevantes da Rua 90,
nos banheiros pobres da periferia
encardidos de amor barato,
de retalhos e esperanças,
cheirando a naftalina e eucalipto.
Eu contabilizo a tua dor
Nos barracões de lona preta,
Nas casas sem porta,
E nas goteiras da tua ilusão.
Eu vejo o olhar iluminado do césio 137
passeando num velho Fiat
pelas ruas esburacadas do nosso desencontro e,
deslumbrado, contemplando a natureza morta
nas tuas curvas e viadutos.
Eu choro o teu abandono,
o teu desprezo,
a tua impotência,
nos olhos paralisados dos meninos de rua,
tão vermelhos quanto os semáforos da Avenida Mutirão,
e mastigados pela cola que os consome.
Eu sofro com os teus vagidos
nas obscuras celas dos teus presídios e manicômios,
e na pálida alegria das tuas garotas de programa,
ao se sentirem importantes nas páginas dos classificados,
postadas como estampas de alguma correspondência barata.
Vejo-a daqui de cima, do Morro do Além,
e a fumaça que sobe dos teus prédios é da cor da alma dos teus algozes.
Vejo os teus mortos e desabrigados,
desiludidos e aviltados,
chorosos e maledicentes ao se virem enxotados de suas ilusões.
Goiânia,
Talvez o meu canto, de natureza triste,
de escombros e revoltas,
Pareça uma ofensa, mas não.
O teu lado belo, da Art Déco, todos conhecem.
As tuas praças floridas,
Tuas avenidas,
Os bairros nobres e condomínios fechados,
Já não são novidades.
Os teus hospitais, centros de excelência,
Tuas catedrais,
Teus palácios,
Aeroporto,
Rodoviária e shoppings.
Tudo isso nos enche de orgulho,
Mas não podemos quedar-nos diante do feio,
Da corrupção,
Do desmantelo.
Goiânia,
A tua história é canto de toda gente,
De todos os cantos,
De todos os povos,
Que aqui chegaram,
Vindos de outras terras,
Com olhares vários,
Com sonhos, costumes e tradições,
Deixando para trás o berço,
A família e o olhar,
Porque foste a eleita e,
Por ser assim, é que te queremos mais amada,
Menos amarga,
Porque fazes parte do mundo,
Porque trazes uma parte e uma fala de cada povo,
E em ti estão as feições de uma sociedade cosmopolita.




Foto by Francisco Perna Filho

POEMA HOMENAGEM



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Hoje cedo, tive a grata satisfação de receber esta homenagem do meu dileto amigo/irmão Sinésio de Oliveira, poeta, jornalista e fotógrafo.




Foto by Sinésio DeOliveira

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