A ALMA DA MINHA MÁQUINA DE LAVAR
Quando a mulher se casa,
ela traz consigo vários desejos, guardados a sete chaves, os quais lhe
proporcionarão muitas felicidades, além da economia de seu tempo para usufruir
das pequenas futilidades femininas.
Talvez não seja do
conhecimento de todos, mas a mulher só adquiriu sua independência quando surgiu
a máquina de lavar, e é nesse contexto que o fato se desenrola: a história de
uma mulher de meia idade e sua máquina de lavar, que tinha alma.
Há alguns anos, mais ou
menos cinco anos, uma jovem esposa, trabalhadora de instituição pública, durante seis horas, e, no restante do dia,
mãe, doméstica, lavadeira, amante, cozinheira, dentre várias outras profissões
inerentes às mães, resolveu, para economizar tempo nas tarefas domésticas, adquirir uma máquina de lavar, comprada via
internet, em 10 prestações, com um prazo de vinte dias para entrega.
Finalmente, a grande
aquisição chega ao domicílio. Um misto de alegria e tristeza toma conta do ambiente. Alegria, por que tudo
era lavado, sem muito esforço (só da máquina, claro!); tristeza, por que a conta de água aumentou assustadoramente. Nem
isso tirou a felicidade daquela mulher.
O tempo foi passando,
um, dois, três, quatro...cinco anos,
quando a grande companheira começou a mostrar-se cansada, e, num belo
dia, de repente, parou sem avisar à sua dona, deixando-a muito aflita, o que a
fez, imediatamente, procura um técnico,
que deu o seguinte diagnóstico:
- O coração da máquina queimou!
-Coração?
- Ah, desculpe-me, a placa da máquina.
Após o diagnóstico, a
facada:
- Para eu consertá-la, a senhora terá de pagar
R$ 120 reais!
- Nossa!, não faz mais
barato?
- Infelizmente, não!
E assim foi feito, Cobrou
cento e vinte reais, arrumou algumas peças, e a grande companheira voltou a
funcionar, a passos bem mais lentos, mas sempre na ativa.
Após três meses de um
relacionamento alegre, de confiança mútua, a estimada amiga, mais uma vez, deu sinal
de cansaço. Mais uma vez, chama o
técnico. Diagnóstico? O mesmo, só que, desta vez, R$ 60 reais mais caro, com
garantia de três meses.
Os meses se passaram, e
a grande amiga continuava firme e forte, lavando tudo, desencardindo o mundo
dos tecidos. Num dado momento, num dia como outro qualquer, fora tomada pelo
desânimo, vira o seu ritmo diminuir, e já não mais respondia ao
comando de sua dona, que impacientemente bradou:
- Da próxima vez, não lhe mando mais para o conserto, vou
comprar uma novinha, pelo menos terei certeza de que ela não me trará surpresas desagradáveis.
Dito e feito, o grande
dia chegou! A velha máquina, depois de bufar repetidas vezes, parou. Várias
tentativas para reanimá-la, foram em vão. Por cinco dias as roupas se
acumularam, ficaram encarunchadas, mas, mesmo assim, a dona, sem querer trocá-la, insistia em
ligá-la várias vezes por dia, até que, no quinto, desistiu de vez, e saiu para comprar uma nova
companheira. E isto realmente se concretizou. Comprou uma mais potente, 10
quilos, turbo, todo o sonho de uma dona de casa. Quando chegou em casa, com a
nova aquisição, foi até à velha amiga, alisou o seu vidro, e falou:
- Minha velha amiga,
tentei tantas vezes, pedi para você não parar e você me deixou na mão, com o
cesto cheio de roupas sujas e uma conta bem salgadinha para pagar, tudo culpa
sua; mas, agora, não tem mais jeito, você dançou, pois já adquiri uma nova
companheira, linda e branquinha.
Neste
momento, num último gesto de amizade e
gratidão, a dona, bem devagar, passa o dedo no botão “liga/desliga” e, num
último sentimento de amor à velha companheira,
aperta o botão verde: de repente,
acende-se uma luzinha, a morta renasce depois
de cinco dias, começa a funcionar, jorrando água, com toda a força, com todo
amor à sua companheira de velhos tempos.
A jovem senhora deixa cair uma lágrima, grita de
felicidade, coloca a roupa suja na máquina, deixando-a trabalhar mais uma vez.
A Máquina nova, na sua imponência, a tudo assistia, mas de nada adiantou, valeu
a experiência da mais velha, a amizade devotada. A sua dona, com o coração apertado, esqueceu a máquina nova em um canto, coberta,
e continua com sua grande companheira, em uma estreita relação de amor: homem e máquina. Toda vez que pensa em
deixá-la, ou melhor, aposentá-la, o seu coração dói.
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