ENTRE IR E FICAR
Entre ir e ficar hesita o dia,
de sua transparência enamorado.
A tarde circular é já baía:
em seu quieto vaivém se mexe o mundo.
Tudo é visível e tudo elusivo,
tudo está perto e tudo é intocável.
O lápis, os papéis, o livro, o vaso
abrigam-se na sombra de seus nomes.
Pulsar do tempo, latejar-me à fonte,
teimosa, a mesma sílaba de sangue.
A luz tece no muro indiferente
um espectral teatro de reflexos.
Bem no centro de um olho me descubro:
não me fita, me fito em seu olhar.
O instante se dissipa. Sem mover-me,
eu me quedo e me vou: sou uma pausa.
Tradução de Anderson Braga Horta
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