Francisco Perna Filho - Poema

 
Amizade


O que nos roubam os filhos
além da nossa insegurança?
o pacto de que estarão sempre presos a nós.
custe o que custar,
façam o que fizer,
haverá sempre um vínculo,
uma centelha,
um murmúrio,
uma desilusão.
Não os criamos
para nós,
mas os defendemos
dos vermes,

dos crápulas,
dos maldosos.

Nos insones momentos
não saberão de nós,
embora estejamos sempre presentes.

Sós,
mas perto,
a amá-los enviesados,
infiéis;
seremos sempre companheiros,
mesmo na ausência,
na distância,
infinitamente.

Imagem retirada da Internet: amizade






Silvio do Rosário Curado Fleury - Poema


Foto by Denise de Almeida
As Chuvas


Rolam turvos os trovões estrondando,
longos, arrastados, grossos, trovejando
e na face turva das nuvens,
amontadas, de bordas esfiapadas
que sobre o horizonte se penduram pesadas
estremeavam os relampejos
em fulgurações amedrontadas
e ora são riscos em fogo traçados,
depois são trêmulas piscadas
de enorme olho que se entreabre abrasado
e vezes são medrosos clarões
em distantes e tímidas verberações.
A natureza espera ansiosa
castigada pela sede que a ressaca;
gritam as cigarras impertinentes
quais fossem vozes de desesperação
na monótona e metálica repetição;
Os sapos espocaem
repetindo, sem cansaço, as deprecações roucas.
Pelos dias afora
cantaram os guasóis insistentes,
os itapicurús em voos pesados
remontaram os rios ressecados
grasnando estridentes,
ou ralos banharam na morna areia,
as galinhas se aninharam na poeira,
os gatos lavaram-se com as patas macias
as vozes da cachoeira até nos longes se anunciam,
a água apresentou estranha quentura
e no fundo da cisterna
cresceu a água que dia a dia baixava
e que fugia
no seio quente e sedento da terra.


In. Os filhos da terra. Brasília: Duo Design, 2009

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