Virgílio Maia - Poema

 
Alvenaria


Sobre pedras se eleva este soneto,
em trabalhosa faina alevantado,
as linhas definidas no traçado
da perfeição do prumo e nível reto.

Dentre tantos eleito, põe-se ereto
rima por rima, embora recatado;
ao martelar do metro faz-se alado,
opondo ao som a luz deste quarteto.

Sobre andaime de verso e de ciência
necessário a erguer prova tão dura,
deixa o pedreiro, alçado, o rés-do-chão.

E sobranceiro ao mundo, àquela altura,
Vai concluir, com brava paciência,
A obra em que balança o coração.


Imagem retirada da Internet: alvenaria
Fonte: Jornal de Poesia

Ymah Théres - Poema


                                             

                        Sonata



O corpo - presilha verde
na rede da vida imersa
pouco a pouco se dissipa
dos loucos búzios, dos mares.

             Vira um lago, uma enseada
em que os espelhos transmigram
o corpo - corpo bebido
de veneno, morte lenta.

O corpo - metade breve
de arlequinadas memórias
nos mastros ocres da angústia
na devassa de ilusão.

Irmão vencido na guerra
das horas por sobre as horas
dos anos idos, dos vindos
o corpo - flor decepada.

                Da haste, um relógio-pênsil
que se alteia e se debruça
nos movediços da argila
o corpo - ferida aberta.

Bola de neve que o tempo
brinca brinca de escurar
jasmim que perde seu viço
o corpo - luz que se apaga.

Dos imos do coração
uma canção que trescala
o corpo, breve que passa
no arranho da solidão.

                                        In. Jornal de Poesia
                                        Imagem retirada da Internet: conchas

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