Ingeborg Bachmann - (Poeta Austríaca) - Poema

Manobra Outonal


 
Eu não digo: foi ontem. Com dinheiro de verão
desvalorizado no bolso estamos novamente 
no debulho do escárnio, na manobra outonal do tempo.
E a saída de emergência para o sul não nos é, 
como aos pássaros, favorável. Á noite,
passam barcos pesqueiros e gôndolas, e às vezes
me atinge um estilhaço de mármore cheio de sonho,
onde sou vulnerável, através da beleza, no olho.
 
No jornal leio muito sobre o frio
e suas conseqüências, de mórbidos e mortos,
de desalojados, matança e miríades
de pedaços de gelo, mas pouco sobre o que me agrada.
E por que deveria? Para o mendigo, que vem ao meio dia,
fecho a porta na cara, pois é tempo de paz
e pode-se poupar tal visão, mas não
na chuva a morte infeliz das folhas.
 
Vamos fazer uma viagem! Vamos ver debaixo dos ciprestes
ou também das palmeiras ou das plantações de laranjas
a preços reduzidos o crepúsculo inigualável!
Vamos esquecer as cartas não respondidas ao ontem!
O tempo faz milagres. Mas quando nos alcança em momento 
errado,
com o pulsar da culpa: nós não estamos em casa.
No porão do sentimento, sem dormir, me encontro
no debulho do escárnio, na manobra outonal do tempo.


Tradução de  Viviane Santa de Paulo

Imagem retirada da Internet: mulher nos trilhos 

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