Jacques Prévert - Poema


Familiale



La mère fait du tricot
Le fils fait la guerre
Elle trouve ça tout naturel la mère
Et le père qu'est-ce qu'il fait le père?
Il fait des affaires
Sa femme fait du tricot
Son fils la guerre
Lui des affaires
Il trouve ça tout naturel le père
Et le fils et le fils
Qu'est-ce qu'il trouve le fils?
Il ne trouve absolument rien le fils
Le fils sa mère fait du tricot son père des affaires lui la guerre
Quand il aura fini la guerre
Il fera des affaires avec son père
La guerre continue la mère continue elle tricote
Le père continue il fait des affaires
Le fils est tué il ne continue plus
Le père et la mère vont au cimetière
Ils trouvent ça naturel le père et la mère
La vie continue la vie avec le tricot la guerre les affaires
Les affaires la guerre le tricot la guerre
Les affaires les affaires et les affaires
La vie avec le cimetière.


Imagem retirada da Internet:: combatente

Francisco Perna Filho - Poema


Geografia


Mando o meu endereço no envelope,
não quero que me respondas,
apenas que me visites.
Certeza  eu não tenho a respeito do rio,
das corredeiras
e do desbotado silêncio de suas lendas.
Mas necessito que venhas,
para eu entender de vez a tua geografia.

Imagem retirada da Internet: mulher

Luiz de Miranda - Poema

Paolo Pagani: Sediaci ženský akt (výrez)
By Paolo Pagani: Mulher nua sentada




Liricamente




O amor na distância
sempre trai
fico sem alicerce
nesse início de abandono
descalço na rua de dentro
do meu próprio amor
que é sabido
mas surpreende
iluminando-me

Amor, espécie de felicidade
passageiro do verão de maio
amor, silêncio de música
assemelhado à cor ao cheiro
às linhas do teu corpo nu


In.Poesia Reunida. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira/Instituto Estadual do Livro, 1995, p. 275.

Renato Russo - Poema



Tempo perdido


Todos os dias quando acordo,
Não tenho mais o tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundo.


Todos os dias antes de dormir,
Lembro e esqueço como foi o dia:
"Sempre em frente,
Não temos tempo a perder".


Nosso suor sagrado
É bem mais belo que esse sangue amargo
E tão sério
E selvagem.


Veja o sol dessa manhã tão cinza:
A tempestade que chega é da cor dos teus olhos castanhos.
Então me abraça forte e me diz mais uma vez
Que já estamos distantes de tudo:
Temos nosso próprio tempo.


Não tenho medo do escuro, mas deixe as luzes acesas agora.
O que foi escondido é o que se escondeu
E o que foi prometido, ninguém prometeu.


Nem foi tempo perdido;
Somos tão jovens.


Imagem retirada da Internet: Renato Russo

Jacques Prévert - Poema





PARA PINTAR O RETRATO DE UM PÁSSARO



                                                                            Para Elsa Henriquez


Primeiro pintar uma gaiola
com a porta aberta
pintar depois
algo de lindo
algo de simples
algo de belo
algo de útil
para o pássaro
depois dependurar a tela numa árvore
num jardim
num bosque
ou numa floresta
esconder-se atrás da árvore
sem nada dizer
sem se mexer…
Às vezes o pássaro chega logo
mas pode ser também que leve muitos anos
para se decidir
Não perder a esperança
esperar
esperar se preciso durante anos
a pressa ou a lentidão da chegada do pássaro
nada tendo a ver
com o sucesso do quadro
Quando o pássaro chegar
se chegar
guardar o mais profundo silêncio
esperar que o pássaro entre na gaiola
e quando já estiver lá dentro
fechar lentamente a porta com o pincel
depois
apagar uma a uma todas as grades
tendo o cuidado de não tocar numa única pena do pássaro
Fazer depois o desenho da árvore
escolhendo o mais belo galho
para o pássaro
pintar também a folhagem verde e a frescura do vento
a poeira do sol
e o barulho dos insectos pelo capim no calor do verão
e depois esperar que o pássaro queira cantar
Se o pássaro não cantar
mau sinal
sinal de que o quadro é ruim
mas se cantar bom sinal
sinal de que pode assiná-lo
Então você arranca delicadamente
uma das penas do pássaro
e escreve seu nome num canto do quadro.


de “Paroles” (1945)


Tradução de Silviano Santiago




In. Poemas de Jacques Prévert,  Rio de Janeiro: Nova Fronteira - 2000.
Imagem retirada da Internet: Revista Agulha 

Jacques Prévert - Poema


O combate com o anjo



Não vás
Tudo já foi combinado
A luta é fraudulenta
E quando ele aparecer no ringue
Nimbado de relâmpagos de magnésio
Eles entoarão aos berros o TEU DEUM
E antes que te levantes da cadeira
Tocarão os sinos sem parar
Jogarão no teu rosto
A esponja sagrada
E não terás tempo de voar-lhe nas penas
Cairão sobre ti
E ele te golpeará no baixo-ventre
Desabarás
Os braços estupidamente em cruz
Na serragem
E nunca mais poderás fazer amor.


Tradução de Dora Ferreira da Silva



Imagem retirada da Internet: Jacques Prévert

J. Guillén - Poema


Uma Porta



Entreaberta, uma porta.
A quem busca essa luz?
Fluente o claro-escuro.


        Transparente e foge
- Para quem o silêncio -
Um âmbito de clausura.

                       Chama, talvez promete
                  A incógnita. Vislumbres.
                  Pra que sol tal repouso?

        E o trajeto propõe,
Dirige por um ar
Vazio e persuasivo.

         Interior. As paredes
Enquadram bem a incógnita.
Aqui? Nogal, cristal.

                         Um silêncio se isola.
                      Familiar, muito urbano?
                      Cheira a uma rosa diária.

           Porta fechada: longe.
Esta luz é destino?
Então, é face a face...


Tradução de  Dora Ferreira da Silva


Imagem retirada da Internet: Guillén

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