GULA
Almocei,
Ai de mim,
I’m Sorry
O sincericídio do Tiririca
* Pettras Felício é Escritor, graduado em Direito e professor de literatura
e interpretação de texto em colégios de Goiânia
Imagem retirada da Internet: palhaço
RECADO A QUEM VIVE NO CERRADO
Viemos a este mundo para aproveitar a vida! Se isto é verdade, nada melhor que usar a natureza para tornar a existência mais prazerosa. Assim, não ligue para as idéias desses ambientalistas nem para as campanhas dos órgãos públicos sobre meio ambiente! Eles estão com os bolsos empilhados de dinheiro. Não pare de usar o Cerrado. Abuse mesmo dele, um biomazinho que nem patrimônio nacional é. Até agora, só conseguimos destruir 48,4% do seu patrimônio. Temos que ser mais eficientes!
Comece a trabalhar pela sua casa. Se houver árvores na calçada, corte-as. Assim, o vento fica mais livre para nos acariciar a pele e o sol, bem mais solto para nos iluminar e aquecer. Dizem que duas árvores substituem um aparelho de ar condicionado, mas chique mesmo não é ter muitas máquinas em casa? Para que sombra? Tem muita gente desocupada e folgada deitada debaixo de árvores. É verdade que elas transformam gás carbônico
Agora, em tempos de eleição, solte fogos à vontade. Os comícios ficam bem mais animados e convincentes. Quando sobe às nuvens, o foguete engole oxigênio e solta dois tipos de outros gases tóxicos. Não dê importância a isto. Esse tal oxigênio a gente nem vê, não é mesmo? Se velhos e crianças ficarem com medo do estrondo dos foguetes, que tampem os ouvidos. É muito emocionante vibrar com o volume dos decibéis que o foguete emite, não acha?
Lave a sua calçada com água tratada mesmo. As Companhias de Água tiram muito dinheiro do nosso bolso. Tome seu banho demoradamente. Dá um enorme prazer. Ao escovar os dentes, deixe a torneira aberta. É poético ouvir o barulhinho da água escorrendo na pia. A vida precisa de mais poesia. Além disto, temos 2,66% de água doce em todo o Planeta Terra e 20% de tudo isto está no Brasil. Não há, pois, razão para economias.
Você não considera fantástica a invenção dos plásticos? Eles facilitam demais a nossa vida e, assim, podemos ter mais tempo para o lazer. Chato é suportá-los após o uso. Livre-se, então, deles, jogando-os nos rios e riachos que são muito preguiçosos. Demoram 400 anos para destruírem material plastificado, mas, no final, fazem seu trabalho direitinho. Em mananciais ricos em plásticos, os peixes desaparecem, porém, há muita carne bovina para o churrasco e outros pratos deliciosos. Os pastos estão abarrotados de boi gordo para o corte e para o lucro! Isto não é bom?
Você está percebendo que vendavais, enchentes e secas estão ocorrendo por esse mundo afora? É lamentável, não é? Mas, por que o povo dessas lonjuras não se cuida? Por que não muda de lugar? Por que não destitui seus governos corruptos? Nós é que temos sorte. Este calor e sequidão, de agora, é por pouco tempo. Além disto, estamos distantes de tragédias. Nossos governantes cuidam muito bem da nossa vida, trazendo-nos progresso. São honestos e só pensam no bem público. É verdade que, de vez em quando, alguns escorregam, mas são humanos e trabalham demais também.
Alguma coisa do que foi dita até agora está sustentada pelo Paradigma Científico, idealizado por Descartes, Newton e por outros cientistas ilustres. Segundo uma das suas idéias, que já duram 300 anos, a natureza tem que colaborar com a ciência, deixando-se torturar para dar lugar aos inventos. Afinal, não é a ciência que está salvando e alongando nosso tempo de viver? Boa vida para você
Isabel Dias Neves é Mestre em Educação, poetisa e escritora. E-mail: labelle@brturbo.com.br
Imagem retirada da Internet: cerrado
CELEBRAÇÃO DAS MARÉS
I
Um risco de veleiros em fuga
sempre foi o teu nome.
Arquipélagos de incandescentes pássaros
os teus olhos. Os frutos do sal,
a íris do sol na filigrana das águas,
os cardumes do outono, clamam em teus pulsos
a presença de um fogo vivo,
cicatriz de um oceano em fúria.
Sempre foi o teu nome as marés.
Em cada palavra do teu ser,
navegam barcos de pólen,
peixes de constelações ardentes.
Em cada silêncio dos teus gestos,
nasce o azul dos cavalos marinhos,
movimento dos remos singrando o mistério.
O teu nome sempre foi os promontórios,
as ilhas desvairadas pelo verão.
Sobre tua nudez repousam
a brancura das velas infladas,
a plena luminosidade do meio-dia.
Em teu destino os corais tramaram
a encantação das estrelas marinhas,
a memória dos búzios.
Essa é a convocação das marés:
fazer do teu rosto o destino das ondas,
a areia desfeita nas orlas.
No teu nome o sono das crianças
apascentou a cólera dos naufrágios.
Imagem retirada da Internet: marés
Aprendi a viver com simplicidade
Aprendi a viver com simplicidade, com juízo,
a olhar o céu, a fazer minhas orações,
a passear sozinha até a noite,
até ter esgotado esta angústia inútil.
Enquanto no penhasco murmuram as bardanas
e declina o alaranjado cacho da sorveira,
componho versos bem alegres
sobre a vida caduca, caduca e belíssima.
Volto para casa. Vem lamber a minha mão
o gato peludo, que ronrona docemente,
e um fogo resplandecente brilha
no topo da serraria, à beira do lago.
Só de vez em quando o silêncio é interrompido
pelo grito da cegonha pousando no telhado.
Se vieres bater à minha porta,
é bem possível que eu sequer te ouça.
Soldado ucraniano Pavel Kuzin foi morto em Bakhmut - Fonte BBC Ucrânia em Chamas - Século 21 Urubus sobrevoam...