Sobre ser mulher...
Quero dizer que aos 53 anos, que hoje tenho, me sinto jovem, leve e solta! Mais ou menos... porque ser mulher nesta sociedade é uma condição de plena resistência! Resistência por ter de se (re)fazer representada constantemente, sempre vista e ouvida! D. Adalgisa teve a felicidade de formar uma família de maioria feminina: Márcia, Magada, Magaly, Madel, Marja e, lógico, ela: Adalgisa! Manoel, Franciscos (02) e Maurício são os outros que compõem essa linda família! Mas o fato de ser composta da maioria feminina me enche de orgulho por poder assinalar o que é o empoderamento feminino: mulheres livres, resistentes (ao seu modo) e conscientes de sua identidade feminina em uma sociedade patriarcal. D. Adalgisa traz essa resistência em suas histórias contadas e, nessa sociedade de classe, de relações de poder, quero dizer do orgulho que sinto por ter minha sogra, aos quase 90 anos, lançando um livro. Uma obra que reflete seus dilemas cotidianos e , ao mesmo tempo, suas reflexões, sempre coerentes sobre a vida. Uma mulher que merece ser reconhecida pela sua capacidade de reflexão e de crítica a este mundo desigual, preconceituoso e, ao mesmo tempo, paradoxalmente, acolhedor! A vida, doída, nos faz ser melhores! Obrigada, D. Adalgisa pelas suas palavras!
Rosana Carneiro Tavares
Mestre e Doutora em Psicologia
Professora da PUC - Goiás
Resenha
"Tempo da Memória: estas palavras eu guardei para ti" reflete bem a sua trajetória, o seu olhar e criatividade, por isso é que o livro se constitui híbrido: poesia, crônica, contos, memória, tudo junto compondo um passado de muitas lutas e glórias. A memória refazendo os caminhos de uma genealogia, trazendo os fatos reais, mas também o ficcional, o que demonstra o seu poder criativo, sua atenção aos acontecimentos, ao vivido. Uma trajetória belíssima.
Dividido em três parte, o livro na sua organização contempla a Memória, Contemporaneidade, Velhice. Escrito por uma mulher, aos quase 90 anos de vida, este livro na sua estrutura, nas epígrafes que traz, intertextualiza com Lygia Fagundes Teles, Clarice Lispector e Cora Coralina, mulheres brilhantes das nossas letras.
Na Primeira Parte, Memória, Adalgisa traz textos que refazem a trajetória de sua família: a origem paterna e materna; a ação pioneira do seu pai, Antônio Pinheiro Nolêto, e de sua mãe, Euzébia Teixeira Nolêto, em Miracema do Tocantins, e sua trajetória épica no Garimpo dos Piaus e em outros garimpos; o mergulho na densidade do sertão goiano (hoje Tocantins), o comércio de cristais e ouro, a fé inabalável de Euzébia, sua mãe, e a tenacidade e intrepidez de Antônio Pinheiro Nolêto, seu pai, em busca de melhores dias para a família, cujo propósito maior era a educação dos filhos.
Na segunda Parte, Contemporaneidade, reflete sobre temas atuais: as agruras provocadas pela Covid-19: perdas, danos e o medo que se abateu sobre todos nós. Reflete, ainda, sobre o papel da mulher na sociedade. Aproveita para falar, mais uma vez, sobre Miracema, desta vez nas suas Bodas de Ouro, e, em outra crônica, diria artigo de opinião, compara a cidade atual com a Miracema do passado.
Na Terceira e última Parte, a Velhice, Adalgisa reflete sobre a sua vida, sobre perdas e ganhos. Fala do sofrimento de quando perdeu a visão de um olho e de como isso afetou sua vida intelectual. Em meio a tantas histórias, nos dá a conhecer uma história comovente "Se os gatos falassem", que serve de metáfora para o amor incondicional das mães.[...]Aborda temas polêmicos, como o abandono familiar e perdas, quando homenageia a irmã querida, Isabel Teixeira Nolêto, falecida recentemente.
Este livro nos vem como testemunho de alguém que viu nascer Miracema: o pioneirismo dos seus pais, histórias de uma família, de uma cidade, de um povo, com o seu rio e seus barcos. Neste livro, pode se saber um pouco da história de todos nós, da nossa amada cidade, com seu começo, seu desenvolvimento, até a contemporaneidade.
Francisco Perna Filho
Mestre e Doutor em Literatura