Não sabem os homens
que o fogo consome,
assim como a água,
tudo que vê.
Um corredor de fogo,
uma serpente de labaredas,
uma convulsão de calor e amarelidão.
O cerrado treme,
grita,
estrala.
Rapidamente,
é consumido.
Os homens,
endemoniados,
roubam dos deuses o fogo,
e lançam suas chamas,
queimando o seco
que brotaria,
o verde ainda tenro.
Os homens,
sem escrúpulos,
sem culpa,
sem misericórdia,
roubam da natureza a vida.
De um lado,
o rio,
“cobra de vidro”,
singra.
Do outro,
o cerrado,
cobra de fogo,
sangra.
Os homens,
senhores do fogo,
zombam dos deuses,
ao anunciarem a sua incúria,
a sua insensatez,
passeando pelas ruas largas da cidade,
nos seus carros de som.
Os bairros,
doídos de abandono,
com suas ruas engasgadas de fumaça,
gemem desolados.
As casas,
que também gritam,
vomitam a fuligem das queimadas folhas,
o pó que se alastra pelos seus alpendres,
assistidas pelo mormaço desses longos dias.
Palmas, 21 de setembro de 2010
Imagem retirada da Internet: cobra de fogo
Enquanto lia seu poema, isso de modo entristecido, a cena de uma queimada que assisti recentemente me acompanhava no percurso da leitura. Me lembrei, então, do despero de um lagarto que corria veloz para fugir da "serpente de labaredas". Às vezes fico a me perguntar se "os homens endemoniados" não serão contidos nessa balbúrdia de caos que aprontam no mundo. O poema é belo, mas não me senti bem na dor lida. E esta, tenho plena certeza, não é um fingimento do poeta. Um grande abraço!
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