Amadeus Amado - Poema


vitr.jpg
Miragem


Pura miragem,
esta tarde:
o vermelho ilude
os teus olhos;
nada me faz entristecer.
Só o vento, aqui,
é verdadeiro.
Tombam homens,
mansões,
torres
e sonhos.
Eu permaneço firme,
fincado,
contemplando os teus olhos:
vermelhos
e ausentes.



Imagem retirada da Internet: ventania

Mário Jorge Bechepeche - Ensaio Crítico


             Foto by Sinésio Dioliveira

Peripécias sagazes de Valdivino Braz


"O Gado de Deus”, de Valdivino Braz, pode ser considerado uma das referências insignes do romance brasileiro




A pertinácia escritural de Valdivino Braz é um cenário de incontido jorro fervilhante e contínuo de galopes fráseos, de lépidos e desvairados petardos estruturais, linguísticos; enfim, um perfilamento e culminação de um remodelismo conjuntivo de décadas literárias. A prosa, com “Cavaleiro do Sol” (1977), e a poesia, “As Faces da Faca” (1978), ressentem-se do assanho impactador de neófito que assoma os horizontes deslumbrantes e irresistíveis da criação literária, mas ainda subjugado pelo imediatismo das temáticas e das influências de autores impregnantes e irresistíveis (como João Cabral de Melo Neto, Carlos Drummond de Andrade, Lêdo Ivo.) que ainda não revelam aquele seu futuro buril raiado que ele instauraria nas publicações posteriores, fantasticamente aguçado, lépido, mordaz, joyceano. Contudo, não se pode negligenciar, além da perpetrante capa de Laerte Araújo para “Cavaleiro do Sol” (ele que sempre acrescenta arte à estetização dos autores), a presença de alvissareiro embrião de forte lampejo estilístico já literariamente representativo nos contos “A Face Oculta da Maldade”, “Que se Passa com Joana?” e “Cavaleiro do Sol”. Nestes, a dotação de linguagem, ao manejar o tema, se lhes cai bem.

Com a forma (estilização), com a fôrma (a palavra, a frase), com a temática múltipla e inumerável, expressando-se por um modelismo inesgotável como arrepanhamento, intertextuação, intertextualidade, realismo mágico, criptografia, etc., Valdivino Braz faz de “O Gado de Deus” (2009), seu premiado romance, uma plataforma de dúcteis plasmações fráseas de arranque ágil e trepidante, um jogo galhofo, satirista, de efeitos fônicos e signóticos, de diletante efeito malabarista na narração com que a sequência dos topos em profusão provê perfeita e admiravelmente uma ginástica concomitante de imagens e ideias, impondo-nos a impressão de que ele faz do texto, à Joyce e à Faulkner, um boneco de mola que ele malemoleja e ventriloqueia a seu bel-prazer. Irrompe o romance com rupturas estruturais, fazendo o primeiro capítulo (como Josué Montello em “Labirinto de Espelhos”) que começa, assim, o romance no prefácio e daí se solta num ensaísmo literário que arrola as pugnas epistemológicas do universo das letras, da política, da música, etc., etc., e que vai vazando todo o livro.

Contudo, como ocorre na disparada do estouro da boiada, ele, triturando na máquina cinematográfica captadora de painéis da vida e da História, sua estilística liquidificadora e o seu excepcional poder mimetizante de alheias estilísticas intertextualizadas, permite que uma dialética escritural verdadeiramente fantástica se metamorfoseie em intertextualidades com estilos de autores hoje ícones de máxima genialidade na Literatura Universal, como Dante, Eliot, Joyce, Drummond, João Cabral de Melo Neto, João Guimarães Rosa. Sem dúvida, “O Gado de Deus” já pode ser considerado uma das referências insignes do nosso romance (goiano e brasileiro) e até um palatíssimo repasto para degustação internacional.

Superação dos mitos

Tal como já ocorrera com a sua poesia atual, na prosa recente também Valdivino Braz enseja a superação de alguns mitos que mantivera em “O Gado de Deus” e na esteira poética passada. Intenta, daí, a superação de adoções de ícones das fronteiras entre semiótica e linguística e suas crias, alcançando nos contos de “Morcegos Atacam o Vampiro” um retorno a uma linearidade mas que, sob seu vigilante tirocínio de conscientização do alcance estético sempre de acurácia genial, desata a prosa e fá-la escorrer em flexibilíssima e fluídica dialética, jocosa de psicodelismo e avivada de mordacidade espicaçante sobre as eternamente incorrigíveis mazelas da bicharada humana.

No levantamento de moldes estilísticos, não se podem omitir alguns caracteres do senso de obra aberta com que ritualiza seus textos: na fraseologia, a miúdo, as criptografias emergem fazendo o personagem assumir a narrativa, assim roubando-a do narrador (autor), nas páginas 72 e 73; a técnica operatória começa a sessão de cinema, sob um véu de lantejoulado realismo mágico, no conto “O grito dos mutilados” (página 35), em que, além desses tópicos (também presentes em “Devoções de Dona Dalva”), insere-se o ensaísmo literário, e só nele e em Heleno Godoy, este cânone aparece nos contos até então publicados.

Finalmente, entre outras aferições, contos como “A Crespa Flor das Pernas”, “Rio Arrependido”, “A Vingança de Zé Divino”, cuja estilização corre como prata líquida sobre a página, podem muito bem, pela refulgência e esplendor das narrativas, ser alçados ao panteon nacional do mais relevante senso antológico. E Valdivino Braz assim também, pelo conjunto de tão significante literatura no Brasil, na galeria de consagrações universais.


Mário Jorge Bechepeche é médico e crítico literário, autor do livro “O Senso de Obra Aberta na Literatura e o Modelismo Conjuntivo da Atualidade” (1º volume).

Este texto foi originalmente publicado no Opção Cultural



Cecília Meireles - Poema


Primeiro Motivo da Rosa



Vejo-te em seda e nácar,
e tão de orvalho trêmula, que penso ver, efêmera,
toda a Beleza em lágrimas
por ser bela e ser frágil.

Meus olhos te ofereço:
espelho para face
que terás, no meu verso,
quando, depois que passes,
jamais ninguém te esqueça.

Então, de seda e nácar,
toda de orvalho trêmula, serás eterna. E efêmero
o rosto meu, nas lágrimas
do teu orvalho... E frágil.

Imagem retirada da Internet: Cecília Meireles

Cecília Meireles - Poema


Timidez 



Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...

- mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...

- palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,

- que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...

e um dia me acabarei.



Imagem retirada da Internet: Cecília Meireles

Sinésio Dioliveira - Poema


Buscando a eufonia




Buscando a eufonia
das cores da música
que a poesia canta,
minha lingu'estica
minha língu'ag'em
busca do mel poético
que há nas coisas.

Buscando a eufonia
das cores da música
que a poesia canta,
faço serem suaves
os pleonasmos viciosos,
hiatizo um ditongo,
ditonguizo o hiato.




Imagem retirada da Internet: O Mel

Sinésio Dioliveira - Poema


Nervo na flor da pele


O nervo
na flor da pele
no fundo do vale
a fúria expele
o furor deságua
e enxágua o suor
carnal dos dois.

O biquini de renda
a flor, a fenda
caminho que o espinho
se enfia e se afia
ferindo o vórtice voraz
que afaga o afã
da fome da faca.

O nervo
na flor da pele -
estrela de pelos negros -
ate-nua a agonia da pele
bebendo o suor da outra
estendida do lençol.

Carlos Drummond de Andrade - Poema


    Amar

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.


Imagem retirada da Internet: Carlos Drummond de Andrade 


Pablo Neruda - Poema



Gosto quando te calas


Gosto quando te calas porque estás como ausente
e me escutas de longe; minha voz não te toca.
É como se tivessem esses teus olhos voado,
como se houvesse um beijo lacrado a tua boca.

Como as coisas estão repletas de minha alma,
repleta de minha alma, das coisas te irradias.
Borboleta de sonho, és igual à minha alma,
e te assemelhas à palavra melancolia.

Gosto quando te calas e estás como distante.
Como se te queixasses, borboleta em arrulho.
E me escutas de longe. Minha voz não te alcança.
Deixa-me que me cale com teu silêncio puro.

Deixa-me que te fale também com. teu silêncio
claro qual uma lâmpada, simples como um anel.
Tu és igual a noite, calada e constelada.
Teu silêncio é de estrela, tão remoto e singelo.

Gosto quando te calas porque estás como ausente.
Distante e triste como se tivesses morrido.
Uma palavra então e um só sorriso bastam.
E estou alegre, alegre por não ter sido isso.



Tradução :Domingos Carvalho da Silva


In.20 Poemas de Amor e uma canção desesperada.Rio de Janeiro: José Olímpio Editora,1974.
Imagem retirada da Internet: silêncio

Pablo Neruda - Poema



Todos



Eu talvez eu não sei, talvez não pude,
não fui, não vi, não estou:
― que é isto? E em que Junho, em que madeira
cresci até agora, continuarei crescendo?

Não cresci, não cresci, segui morrendo?

Eu repeti nas portas
o som do mar,
dos sinos,
eu perguntei por mim, com encantamento
(com ansiedade mais tarde),
com chocalho, com água,
com doçura,
sempre chegava tarde.
Já estava longe minha anterioridade,
já não me respondia eu a mim mesmo,
eu me havia ido muitas vezes.

Eu fui à próxima casa,
à próxima mulher,
a todas as partes
a perguntar por mim, por ti, por todos
e onde eu estava já não estavam,
tudo estava vazio
porque simplesmente não era hoje,
era amanhã.

Porque buscar em vão
em cada porta em que não existiremos
porque não chegamos ainda?

Assim foi como soube
que eu era exatamente como tu
e como todo mundo.


Tradução: Luiz de Miranda

In. Últimos poemas. Porto Alegre: L&PM Editores,1983. 
Imagem retirada da Internet: porta

Ulisses Tavares - Poema



Esquizo




Tem um cara dentro de mim
Que faz tudo ao contrário:
Não temo amar, ele se borra
Sou esperto, ele é otário
Não amolo ninguém, ele torra
Acredito em tudo, ele é ateu
Sou normal em sexo, ele tarado
Agito sempre, ele fica parado
sou bacana, ele escroto
quem me faz infeliz e torto
É sempre ele, nunca fui eu.

Imagem retirada da Internet: duplo

Braulio Tavares - Poema



A coisa





Eu quero inventar uma coisa, uma coisa viva, uma coisa
que se desprenda de mim e se mova pelo resto do mundo
com pernas que ela terá de crescer de si própria;  
e que seja ela uma máquina viva, uma máquina
capaz de decidir e de duvidar, capaz de se enganar e de mentir.
Uma coisa que não existe. Uma coisa pela primeira vez.
Uma máquina bastarda feita de dobradiças e enzimas
e metonímias e quarks e transistores e estames
e plasma e fotogramas e roupas e sopa primordial...  
Quero apenas que seja uma coisa minha, uma coisa
que eu inventei numa madrugada enquanto vocês dormiam
e quando a vi recuei, e quando a soube pronta duvidei,
e vi a eletricidade do relâmpago abrindo seus olhos
e martelei seu joelho temendo-a, e mandando-a falar,
e gritei: "Levanta-te e anda!"- e a coisa era uma galáxia
tremeluzindo no centro da folha branca, me olhando
com meus olhos de homem, me sorrindo
com tantas bocas de mulher, me envolvendo
com sua sintaxe de coisa nova que força o mundo a mover-se,
fincando uma cunha no Real e se instalando naquela fenda,
como um setor a mais invadido um círculo já completo.
Eu quero que essa coisa existisse, assim como  
eu quis que eu seja. Quero vê-la brotar desarrumando.
Coisa criada, cobra criante, serpente criança,
criatura sentiente, existinte, sente, pensante,
cercada pela linha brusca do seu até-aqui
Essa coisa me conhecerá e não me reconhecerá  
como seu Criador. Essa coisa terá poder de me destruir,  
e de me recompor, e me mandar pedir-lhe a bênção.
Então pedirei. Sairei pelo mundo. Com minhas próprias pernas.
Finalmente leve e livre, tendo parido algo maior do que eu mesmo,
e disposto a me abraçar ao mundo, como quem desce do ônibus
na rodoviária da cidade onde nasceu. Mas o mundo!
O que é esse mundo onde eu ando agora? Olha a cor das casas,
o rosto do povo, o som da fala, a manchete dos jornais, o cheiro
do vento... que mundo é esse para onde retornarei depois de livre?
Fico parado, o coração pulando, e só daqui a pouco perceberei,
com uma surpresa antiga — que aquilo não é mais meu mundo:
e o mundo da coisa, é o mundo da minha Coisa.



In. ANTOLOGIA SONORA – Poesia Paraibana Contemporânea. João Pessoa: Edições O Sebo Cultural, 2009. - Fonte: Antônio Miranda
Imagem retirada da Internet: coisa

Francisco Perna Filho - Poema


Prece 



Afasta de mim,
meu Deus,
este cinza dos olhos,
a lonjura da esperança
e o declive do desengano.
Não permitas
que a zombaria seja fato
nesta tarde,
mas que o afeto
escandalize todo o resto do dia.
Sobriedade, Senhor,
é o que eu peço,
para compor esta elegia
em louvor às ruas desertas,
aos cais abandonados,
e  às ausências perpetuadas.


Imagem retirada da Internet: cais abandonado











Hermann Hesse - Poema


JUNHO EM DIA DE VENTO


O lago está parado feito vidro.
Na alcantilada encosta da colina
ondula em prateado a relva fina.

Lastimosa e com seu temor da morte,
grita no ar uma ave de arribação
cambaleando em curvas indecisas.

Voando para cá, vem do outro lado
um som de foice e um forte olor do prado.


In. Andares. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, p.57.
Imagem retirada da Internet: Lago Llanquihue

Ferreira Gullar - Poema





Cantiga para não morrer     


Quando Você for se embora
moça branca como a neve
me leve
me leve        
Se acaso você não possa
me carregar pela mão
Menina branca de neve
me leve no coração
Se no coração não possa
por acaso me levar
Moça de sonho e de neve
me leve no seu lembrar
e se aí também não possa 
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento
Moça branca como a neve
me leve no esquecimento




Pablo Neruda - Poema


Foto de um velho navio chinês
FAREWELL 





Desde o fundo de ti, e ajoelhado
um menino triste, como eu, nos olha.
Pela vida que arderá nas suas veias
teriam que amarrar-se nossas vidas.
Por essas mãos, filhas das tuas,
teriam que matar as minhas mãos.
Pelos seus olhos abertos na terra
verei nos teus lágrimas um dia.


Eu não o quero, Amada.
Para que nada nos amarre
que nada nos una.
Nem a palavra que perfumou tua boca
nem o que disseram as palavras.
Nem a festa de amor que não tivemos,
nem os soluços junto à janela.


(Amo o amor dos marinheiros
que beijam e partem.
Deixam uma promessa.
Não voltam nunca mais.
Em cada porto uma mulher espera:
os marinheiros beijam e partem.
Uma noite deitam-se com a morte
no leito do mar.


Amo o amor que se reparte
em beijos, leite e pão.
Amor que pode ser eterno
ou que pode ser fugaz.
Amor que quer libertar-se
para voltar a amar.
Amor divinizado que se chega
amor divinizado que se vai.)

Já não se encantarão meus olhos nos teus,
já não abrandará junto a ti minha dor.
Mas onde quer que vá levarei o teu rosto
e onde quer que vás levarás a minha dor.

Fui teu, foste minha. Que mais? Juntos demos
uma volta no caminho por onde o amor passou.
Fui teu, foste minha. Tu serás daquele que te amar,
do que colher no teu jardim o que eu semeei.

Vou-me embora. Estou triste: estou sempre triste.
Venho dos teus braços. Não sei para onde vou.
... Do teu coração diz-me adeus um menino.
E eu digo-lhe adeus.


Imagem retirada da Internet: velho navio

Fagundes Varela - Poeta




Juvenília VII


Ah! quando face a face te contemplo,
E me queimo na luz de teu olhar,
E no mar de tua alma afogo a minha,
E escuto-te falar;

Quando bebo no teu hálito mais puro
Que o bafejo inefável das esferas,
E miro os róseos lábios que aviventam
Imortais primaveras,

Tenho medo de ti!... Sim, tenho medo
Porque pressinto as garras da loucura,
E me arrefeço aos gelos do ateísmo,
Soberba criatura!

Oh! eu te adoro como a noite
Por alto mar, sem luz, sem claridade,
Entre as refegas do tufão bravio
Vingando a imensidade!

Como adoro as florestas primitivas,
Que aos céus levantam perenais folhagens,
Onde se embalam nos coqueiros presas

Como adoro os desertos e as tormentas,
O mistério do abismo e a paz dos ermos,
E a poeira de mundos que prateia
A abóbada sem termos! ...

Como tudo o que é vasto, eterno e belo;
Tudo o que traz de Deus o nome escrito!
Como a vida sem fim que além me espera
No seio do infinito.


Imagem retirada da Internet:Fagundes Varela



Luiz de Miranda - Poema




No coração


Mais que bela
aquela que o poema não deu
e se quebrou
no cristal do bar

Mais que esta
a festa que o amor perdeu
diluindo-se
nas palavras sem voz

Mais que a despedida
a vida que se acende
no coração
com a esperança de quem chega

Imagem retirada da Internet: Ibisco

Jacques Prévert - Poema


Familiale



La mère fait du tricot
Le fils fait la guerre
Elle trouve ça tout naturel la mère
Et le père qu'est-ce qu'il fait le père?
Il fait des affaires
Sa femme fait du tricot
Son fils la guerre
Lui des affaires
Il trouve ça tout naturel le père
Et le fils et le fils
Qu'est-ce qu'il trouve le fils?
Il ne trouve absolument rien le fils
Le fils sa mère fait du tricot son père des affaires lui la guerre
Quand il aura fini la guerre
Il fera des affaires avec son père
La guerre continue la mère continue elle tricote
Le père continue il fait des affaires
Le fils est tué il ne continue plus
Le père et la mère vont au cimetière
Ils trouvent ça naturel le père et la mère
La vie continue la vie avec le tricot la guerre les affaires
Les affaires la guerre le tricot la guerre
Les affaires les affaires et les affaires
La vie avec le cimetière.


Imagem retirada da Internet:: combatente

Francisco Perna Filho - Poema


Geografia


Mando o meu endereço no envelope,
não quero que me respondas,
apenas que me visites.
Certeza  eu não tenho a respeito do rio,
das corredeiras
e do desbotado silêncio de suas lendas.
Mas necessito que venhas,
para eu entender de vez a tua geografia.

Imagem retirada da Internet: mulher

Luiz de Miranda - Poema

Paolo Pagani: Sediaci ženský akt (výrez)
By Paolo Pagani: Mulher nua sentada




Liricamente




O amor na distância
sempre trai
fico sem alicerce
nesse início de abandono
descalço na rua de dentro
do meu próprio amor
que é sabido
mas surpreende
iluminando-me

Amor, espécie de felicidade
passageiro do verão de maio
amor, silêncio de música
assemelhado à cor ao cheiro
às linhas do teu corpo nu


In.Poesia Reunida. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira/Instituto Estadual do Livro, 1995, p. 275.

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