José Fernandes - Poema



PÁSCOA


Eu não vejo sua face, a olhos vistos;
mas ele me vê e me conduz por essa
estrada torta, a que faz reta e plana,
porque tenho de caminhar mesmo
sem saber o ponto da encruzilhada
com suas múltiplas direções.

Por isso, caminho de olhos abertos,
porque ele venceu a morte para me
dar a vida que me faltava antes do caos
e depois do pecado que trago entranhado
na minha essência de homem humano.

Mas, se ele me conduz, porque temer
a fala e o pecado que se enrosca solerte
entre as árvores do engano de Lilith
enrolada em minhas pernas sequer
desenhadas à sombra da lua nova?

Ele me conduz, porque a cruz destronou
a maçã e suas cores de pecado debuxadas
pelos pés da cobra que me queria lambido
pela língua bífida que morde o próprio rabo
e que me quer enrolado no centro do círculo.

Por isso caminho, sou homo viator, faço
a minha páscoa e a minha peregrinação, nasa’,
ao interior do verbo para nele me conformar
em homem e em poesia nesse êxodo sem fim
à Terra Prometida do reino da linguagem
que me transportar para a eternidade.


Imagem retirada da Internet: Easter

Gregório de Matos Guerra - Poema




A Cristo Senhor Nosso crucificado


Meu Deus, que estais pendente em um madeiro,
Em cuja Lei protesto de viver,
Em cuja Santa Lei hei de morrer,
Animoso, constante, firme e inteiro.

Neste lance, por ser o derradeiro,
Pois vejo a minha vida anoitecer,
É, meu Jesus, a hora de se ver
A brandura de um Pai, manso cordeiro.

Mui grande é vosso amor e meu delito;
Porém pode ter fim todo o pecar,
E não o vosso amor, que é infinito.

Essa razão me obriga a confiar
Que por mais que pequei neste conflito,
Espero em vosso amor de me salvar.

Marinalva Rego Barros - Poema


TRILHA


Os caminhos do teu endereço
São cheios de esquinas,
A estrada que conheço
Margeava um rio que partiu
E minha bússola,
Feita de amor antigo,
É hoje inexata.

Peço novas senhas:
Lamparinas na janela
Jasmineiro no portão
E um código secreto
Que só meu coração conheça.


Andarei por tua casa
Com sandálias de algodão
E farei um poema
Terno e pungente,
Como convém a um amor antigo
Bordado de ausências.

Imagem retirada da Internet: lamp

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