Flora Ferreira - Poema


do almoço


ouço ruídos na mesa
e a taça de vento que entorna
varre mesas formas fumos
olhos tensos crus e informa:
não vem o que se creu
e o que houvera de ser
não deu tempo de aprontar

menu de almoço em alvoroço
de um ser periódico metódico
incumbido de ser
pronto a voar suar enlouquecer
procriar com a própria mágoa
e adormecer
sem vício ou desperdício
de olhar o quieto  acontecer
do calmo e transbordante
feijão na plataforma de um fogão
em panela de pressão
suporte suportando
temperos e tais intempéries
levados aos pratos brancos
de expressão tranqüila
estampados no molho da opressão
empilhados todos na partilha à esmo
de dedos sem fio multiplicados
confusos fracos fraternos
entre garfos e facas infinitos sérios
na invasão sofrida das torneiras

a ordem é
sangrar depois do almoço
as veias injetadas de sinfônica sinfonia
simuladas
em nó e trombo

a ordem é
lavar depois do amor
a alma fértil carcomida
escorregar no lixo o resto a vida
nos mesmos cacos nus

a ordem é
servir depois do almoço
para mastigar partir diluir
sobremesa à degustar [que forra!]
nos dentes quentes em ânimo demente
a própria honra

a ordem é
beber café com muito amargo
e pouca perspectiva
a não ser a sesta o sono a morte
em progressão tranqüila
e nessa evolução cair estender-se e partir
em direção ao" pórtico sumiço"
que há de causar tão breve reboliço
ao ser tão dito imprestável ou previsto
como o próprio impropício almoço. 


Imagem retirada da Internet: rostos

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