João Cabral de Melo Neto - Poema



O luto no Sertão



Pelo sertão não se tem como
não se viver sempre enlutado;
lá o luto não é de vestir,
é de nascer com, luto nato.

Sobe de dentro, tinge a pele
de um fosco fulo: é quase raça;
luto levado toda a vida
e que a vida empoeira e desgasta.

E mesmo o urubu que ali exerce,
negro tão puro noutras praças,
quando no sertão usa a batina
negra-fouveiro, pardavasca.


Imagem retirada da Internet: sertão

Um comentário:

  1. Francisco,

    as constatações de João Cabral sobre o nordeste, de seu cerne árido à pele sempre me causaram emoção.

    Ao contrário do que o próprio Cabral regulava, poesia assim é muito, muito emocionante.

    Forte abraço!

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