Sinésio Dioliveira - Crônica


Goiandira deixa suas pegadas na areia



Tive o privilégio de entrevistar a artista Goiandira do Couto. Isso já faz um bocado de anos. Na época ela estava com 82 anos. Lembro que sugeri a vida da artista como pauta na reunião que acontecia toda segunda-feira no jornal, um semanário.

Minha sugestão, entretanto, não foi aceita pelo dono do jornal, pois, segundo ele, era dispendioso deslocar um carro até a Cidade de Goiás e junto a isso o fato de que o assunto “cultura” não gera lucros ao jornal. Tentei dissuadi-lo de sua pequenez jornalística. Foi, portanto, em vão.

Após me certificar com o dono do jornal de que pelo menos a matéria seria publicada, rumei para a Cidade de Goiás em meu próprio carro, acompanhado do fotógrafo Iris Roberto. Ainda bem que fui. Já chegando à cidade e ao avistar a Serra Dourada, onde a artista extraía os grãos de areia de centenas de cores para dar vida a suas obras, tematizadas nas casas e ruas de sua cidade, parei o carro e pedi ao fotógrafo que fizesse algumas fotos da serra. Como estávamos no mês de maio, a paisagem estava muito bela. O verde da vegetação era vigoroso.


Minha conversa com Goiandira durou quase três horas. Liguei para ela assim que entrei na cidade. Ao chegar em sua casa, encontrei duas portas abertas: a de sua casa e a de seu coração.
 Na verdade, eu já conhecia a artista, mas queria conhecer também a pessoa dentro da artista. Que pessoa maravilhosa!

Em meio à entrevista realizada pela manhã, isso após Goiandira passar um café fresquinho, que rescendeu deliciosamente pela cozinha, onde estávamos, ela ia me mostrando seus quadros, fotos de suas exposições. Falou de sua infância, mas sem o saudosismo romântico. Falou da importância de seus pais, da influência da mãe, que era pintora, em sua vida como artista plástica. Falou da importância do pai no estímulo pela leitura. Falou que cresceu rodeada de livros e que isso foi-lhe muito importante na lapidação de sua personagem. Até mencionou Castro Alves: “Bendito o que semeia livros!” Monteiro Lobato também é mencionado por Goiandira: “Um país se faz com homens e livros.”

A certa à altura da entrevista, quando falava das inúmeras personalidades políticas e religiosas que a visitaram, perguntei-lhe qual foi a mais importante. “Foi Chico Xavier, ele inclusive sentou-se na cadeira em que você está sentado agora.”

Voltei para Goiânia feliz em ter conhecido aquela mulher tão determinada, tão importante e de um coração tão grande. Ainda bem que ela gostou da entrevista, tanto que me mandou, dois dias após a publicação da matéria, uma bandeja de doces cristalizados.

Goiandira foi embora, mas deixa suas pegadas na areia...


Imagem retirada da Internet: Goiandira do Couto

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