Gilberto Mendonça Teles - Poema

Eu e o Poeta Gilberto Mendonça Teles - Goiânia - GO



RECEITA




Tome a palavra suja,

"cabeluda" e com c'aspas,

essa que tem açúcar

no sangue, e sobretaxa.


Tome a que, sendo escrava

da tribo e do tributo,

mostra no corpo as marcas

de lacre, logro e lucro.


Pode ser a de baixo

calão, a manteúda,

como opção, como cágado,

essa que se disputa


nas feiras, que é falada,

que é falida e que gruda,

tome a palavra chata,

tome a palavra chula


e bote tudo às claras

e gema e até misture

coisas de corpo e alma,

de vida e de cultura


e leve ao forno e passe

a forma na gordura,

depois coma e disfarce

os bigodes da gula.



In. Arte de Amar. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1977

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