Aleksander Wat - Poema


Poeta


O poeta é aquele, pensei, que veio sem ser convidado
para o banquete dos Filistinos?
E colocou-se à cabeceira da mesa,
o cabelo feito um capacete,
oh, como domina a assembléia dos Filistinos armados!
Ele chega de partes onde nenhum deles esteve
e nunca estará.
Onde as coisas finais chocam-se
e fendem como montanhas glaciais
e afundam ou,
ou vão flutuando embora
ao encontro de novos nascimentos e pores do sol,
que nenhum deles verá.
Ele podia levar diante de si seu desprezo como duas tocha -
mas num olho incandesceu amor
e noutro fúria.
Ele podia, dos pássaros assados sobre travessas de ouro,
predizer-lhes seu triunfo, ou sua derrota. Derrota, muitas derrotas.
Ele podia gritar e com seu punho de pedra
partir suas mesas ao meio,
rasgar suas armaduras de cobre.
Porque veio sem se deixar convidar... Ou -
podia ele mesmo assumir a forma de uma cerceta branca
e com um só movimento das asas
voar embora, depois cair como pedra
nas águas negras
nas ondas escarlates
do Estige... Ou, ounas águas puras
e distantes
da terra
natal.

Tradução de ZBIGNIEW WÓDKOWKI (Com modificações; Aproximações, Brasília/Lisboa/Cracóvia, n.4, 1990.)
In. Revista Poesia Sempre.Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional p.35.

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