DA NECESSIDADE DE ENVELHECERMOS









Francisco Perna Filho











Quando nos damos conta, constatamos que o tempo passou tão depressa, que nós envelhecemos, pois já não somos mais aquela jovialidade que nos supúnhamos. Perdidos, às vezes, ficamos impossibilitados de não podermos mais fazer muito daquilo que fazíamos, as nossas forças, há muito, se esvaíram. Não há mais tempo para buscar o perdido, recuperar o irrecuperável.

Envelhecer poderia ser sinônimo de amadurecimento, de responsabilidade, de paz e tranquilidade, no entanto, temos constatado que não é bem assim, já que muitas pessoas, às vezes pela própria sorte, outras pela inconsciência, terminam por desvirtuar o verdadeiro sentido do que venha a ser envelhecer.

Amadurecer requer tomada de consciência, reflexão constante, aceitação; apesar de existirem os que envelhecem e não se dão conta disso, em si, permanecem como verdadeiros mocinhos, à revelia de tudo e de todos, ridiculamente expõem-se em trajes e atavios de uma idade que há muito se foi. Outros, por medo de envelhecer, unem bocas e orelhas, peitos e costas, virilhas e bundas, nas inúmeras plásticas que fazem, adquirindo deformidades que só aumentam o descontentamento, a baixa auto-estima e as crises existenciais, que levam à depressão.

Envelhecer traz responsabilidades, atitude, muitas vezes, não alcançada por algumas pessoas, já que, apesar dos anos, muitos indivíduos persistem na falta de compromisso, em não honrar acordos, buscando uma vida fácil à custa da boa vontade dos outros. São pessoas que desperdiçam o tempo, não querem progredir, não vislumbram melhoras, não têm expectativas. Tudo é momentâneo, não existe amanhã, até que o amanhã chegue e lhes mostre, outra vez, a necessidade.

Apesar de a velhice ser um momento de tranquilidade e paz, quantos indivíduos envelhecem com fel, falando mal da vida e do mundo, culpando a Deus pelas desgraças e desacertos, sempre perseguindo os seus semelhantes. Este tipo de gente insiste em destilar o seu veneno, a maledicência, a continuar explorar o próximo, a ordenar destruição e assassinatos. A sua bandeira é a prepotência e a arrogância. Quantos não estão por aí a ocupar cargos representativos: presidentes, governadores, juízes, só para citar algumas categorias, sem falar no simples escriturário, no estelionatário, no ladrão de galinhas. São seres que contribuem, e muito, para o caos social, já que não estão preocupados nem com o bem-estar das pessoas e nem com a harmonia planetária.

Viver não é fácil, é uma experiência muito dolorosa, mas gratificante. O que falta ao ser humano é uma tomada de consciência de que a alegria que brota na casa ao lado pode ser a ilusão de felicidade que trazemos. Não se constrói uma vida sem dor, e é da natureza humana envelhecer, Graças a Deus!. Envelhecemos para nos darmos conta de que o tempo não para, da possibilidade majestosa de outros seres virem ao mundo, da necessidade de nos vermos como pais, tios, avós. Tudo isso é muito belo e nos conforta. A natureza é sábia e nos cobra muito caro pelos nossos atos, tendo em conta que nos foi confiada a vida, que nos foi confiado um corpo, com o qual haveremos de enfrentar muitas dificuldades, muitas intempéries e percalços; difíceis caminhos teremos de percorrer.

Sendo assim, o sentimento de potência que trazemos é a primeira prova de que somos perecíveis, de que caminhamos com as nossas pernas, mas que uma força grandiosa nos conduz, apesar de pensarmos diferente, é assim que as coisas acontecem. Iludimo-nos com a eternidade, com a nossa juventude, com a perenidade, perdemos-nos nas nossas vontades e vaidades, nos nossos desejos e imposições. Quando Iludidos estamos pela eternidade, humanamente envelhecemos, humanamente partimos.


Pablo Picasso - La Vie, 1903 - (Cleveland Museum of Art, Ohio, U.S.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário aqui

Leia também

Valdivino Braz - Poema

Soldado ucraniano Pavel Kuzin foi morto em Bakhmut  - Fonte BBC Ucrânia em Chamas - Século 21                               Urubus sobrevoam...