A CIDADE I
















A partir desta quinta, 21, postarei uma série de poemas que referenciam a cidade. Estes poemas fazem parte do meu segundo livro As Mobílias da Tarde, editado pela Perna&Leite Editores, 2006. 



                     


                              I

 

 

A cidade é vista sob a neblina difusa.

Há um desejo de vê-la cada vez mais de perto.

ela  é vária e diluída ensina

um olhar de milhas

que não se perde em mim,

A cidade é dura,

é leve

é ilha.

Somente em mim ela se completa.

Acordada, sente o olhar humano,

e dormindo, afaga os sonhos mais diversos.

Há um querer de ruas,

de praças,

de espaços e vazios.

 

A cidade é táctil, 

no sonho de cada um.

Emblemática,

Pálida,

Palaciana.

Refletida nos olhos alheios

da multidão perdida,

alonga- se pelos fios das telefônicas

dos teleféricos,

dos meios– fios.


A cidade esculpida,

pronta,

bela,

artística,

celebra o ócio,

a saciedade,

todas as cores,

todos os mármores,

todos os vinhos...

postum vinu...

 

a cidade bela,

com suas curvas,

seus cabelos,

suas praças,

elegantemente, caminha;

socialmente, apresenta-se

trazendo nos lábios

a expressão do amor urbano.

   

A cidade no olhar encanta,

Com seus olhos negros,

Fotografa o ser que passa

e nela vive.

Ela é pura graça,

no salto alto,

semblante atalho para o coração.

Noturna,

Revela-se em cores, odores e desafetos.

Abrindo a blusa,

receia não ser comida,

degustada,

matar a fome de quem somente paga,

somente passa.


A cidade em chamas

desconstruindo-se

subindo e descendo

longas ladeiras,

explode em verdes,

em vias:

prazerosamente,

permanentemente

orgástica.

Ainda perplexa,

recebe o homem,

com suas máquinas,

com suas mágoas,

Com sua crenças

e  caprichos.

E ele

nela se perde,

lamentando não conhecê-la


Imagem: óleo sobre tela - by Francisco Perna Filho - 2008 

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